janeiro 14, 2015

5 de janeiro de 1990.

    Querido Charlie,

         Provavelmente não receberá esta carta, sequer sei seu endereço e também, não quero que saiba quem sou, Mas te escrevo, porque sei que irá me entender e não vejo porque não deveria estar fazendo isso. 
         Estes últimos meses tem sido como uma pedra em meu sapato. Nada de diferente acontece, está tudo sempre igual, monótono. E continua assim mesmo quando Julie está ao meu lado. Não sinto mais aquele frio na barriga, aquela ansiedade ao saber que vou encontrá-la e seus abraços têm se tornado os mais desconfortáveis possíveis. Julie Morgans, a princesinha, desejada por quase todos. Confesso que no começo só me senti interessado por ela por ser bonita e digamos que um tanto quanto popular, mas depois vi que ela é algo mais. É inteligente, não a melhor da sala, mas, suas notas são impecáveis. E também é carismática, sabe lidar com as pessoas. Mas há algo nela, que, convivendo a longo prazo, a torna quase insuportável. Essa mania de querer controlar tudo. Ela simplesmente me controla. Perdi amigos por causa disso. Peter se afastou, sequer me cumprimenta no colégio e isso machuca. Nos conhecemos desde os meus oito aos, ele foi o meu primeiro amigo desde que me mudei para Oxford. Foi ele quem me ajudou a me adaptar a nova vida e por ser uma pessoa tão importante, não queria perder sua amizade. Julie sempre foi desagradável com ele e desde a última briga que tivemos, não troquei mais uma palavra com Peter, durante as férias interirinhas. Mas, apesar de tudo Julie não é o maior dos problemas. Em casa, tudo só piora desde a separação dos meus pais. E a pequena Madisson, minha irmã mais nova, é quem mais sofre com tudo isso. Tento distraí-la, a levo ao parque, estou sempre por perto, mas, sei que ainda não é o suficiente e ela é pequena demais pra entender, tem apenas quatro anos.
         É complicado. Confesso que nem eu entendo o porque da separação, mas respeito as escolhas da mamãe, sei que ela teve seus motivos. 
         A minha única motivação no momento é a peça que apresentarei no final do ano. Daqui alguns meses escolherão quem será Romeu e Julieta, tenho ensaiado muito e espero conseguir o papel de Romeu. E agora, será ainda mais fácil sem Walter em meu caminho. Papai nunca foi uma pessoa carinhosa, pelo menos não comigo. E também nunca gostou da idéia de ter um filho que deseja ser ator e nunca, sequer foi a uma apresentação teatral minha. Isso me chateava bastante, mas jamais fez com que eu desistisse de ser ator. Eu amo os palcos e o teatro é a minha vida. Não espero que ninguém compreenda isso e sei que ninguém realmente compreenderia isso, fora mamãe. Então vou continuar atuando. E sinceramente, não há quem possa me parar. 


                                                                         Com carinho, Patrick. 

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