fevereiro 25, 2017

Escape (!)




 Trabalho, dentista, cursinho, trânsito caótico e os pequenos empecilhos do dia-a-dia. Acorda-escova-os-dentes-vai-trabalhar-almoça-volta-para-casa-estuda-faz-qualquer-coisa-toma-um-banho-janta-dorme. Repeat. Junta tudo isso e mais uma pitada de apatia que impregna o mundo a nossa volta. 
 A cada segundo, os ponteiros parecem deslizar cada vez mais rápido pelo relógio. Você piscou e, caramba(!) Mais um ano que passou e sua vida continuou tal como ainda é: tediosa e na mesmice. A correria da vida urbana, o caos das cidades, a rotina que permanece paulatinamente,  a dias corridos, consumindo nossa energia vital, consumindo o cerne do nosso ser. Sem nos dar descanso. Sempre a mesma coisa. E para que?
 Aonde queremos chegar com tudo isso? Se perguntamos para um estudante, a resposta, pode acreditar que está na ponta da língua: passar no vestibular! Para um pai de família? Sustentar a casa. Para uma mãe? Dar uma vida digna aos seus filhos. E por aí vai. E os motivos muitas vezes são plausíveis? São! É claro que são. Mas tem de haver um equilíbrio nisso tudo. 
 No filme O doador de memórias, que assisti recentemente, é retratado uma sociedade utopicamente ideal, onde não há família, religião ou classes sociais que venham discernir as pessoas. Todos são condicionados a ser igualmente e plenamente feliz. Não obstante, essa sociedade só funciona por um único motivo: o não sentir! Todos que nela vivem, tomam doses diárias de medicamentos que inibem, qualquer sentimento. Não há inveja que estimule o ódio e incite o roubo, como também não há paixão que os levem a tomar qualquer atitude estúpida e amor que faça-os perder a noção, (ou melhor) que agregue sentido as suas vidas. Mas nós, felizmente (ou não), não estamos blindados por medicamentos que desvaneçam nossos sentimentos (nem sequer os ruins) e, apesar de vivermos numa verdadeira rotina maçante de mesmices tal qual o filme mostra, ainda não vivemos numa sociedade ideal e controlada, onde cada engrenagem está tão devidamente encaixada em seu eixo que não há fator externo ou até interno, que te fustigue. 
 E se é que há esse negócio chamado alma, é no meio disso tudo que a notamos. Ela chega a esgoelar-se por um porto, frente a esse mar turvo de sarilhos e monotonias. Se não acreditar nessas coisas, alma, céu, inferno e etc. Pode chamar isso de impulso, ou como preferir. O fato é que: não há condicionamento que venha livrar-nos do tão insuportável: tédio. E isso inquieta, é tal como uma pedra no meio do caminho e no meio do caminho, sempre parece ter essa pedra.
 Todavia, eis que há uma válvula de escape: o amor, a arte, a poesia. (Oh Capitão, meu Capitão!) É pra isso que vivemos! E há quem pergunte afinal, o que é a arte frente a isso tudo? O que é poesia? Esqueça toda aquela ladainha que os intelectuais tentam infatigavelmente conceituar. Esqueça até mesmo que no meio do caminho tem uma pedra. E busque em Cazuza, Van Gogh, Cícero ou Chopin, algo que altere o curso dos seus ideais, dos seus dias, de suas ideias formadas. O estranhamento ou regozijo, no final das contas, só precisam ser sentidos. 

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