setembro 30, 2015

Coisas que SEMPRE quis dizer, mas NUNCA disse.




Não foi só um beijo, você sempre soube que não seria só um beijo. Foi  tocar-te os lábios saciando o nosso desejo. Ou melhor, o meu desejo de todo coração e alma e o seu de toda alma e corpo. Mas você sabia. Sabia que me roubava com os olhos a cada palavra a balbuciar enquanto me fitava. Enquanto eu te fitava, mediante nossos olhares trocados que pediam excessivamente aproximação. Sempre o quis.  E você sempre foi consciente, nunca ouve omissão.

E naquela noite, quando a maioridade veio regar-me, você colheu do bem mais precioso, o meu amor. Sim, o meu amor. Porque isso nunca se tratou apenas de um mero beijo. Tratava-se das minhas noites de insônia, das minhas ânsias, dos meus sonhos, da minha admiração, do meu medo e  também da nossa amizade. E o que seria dela após nosso beijo?!

Para você não se passou de mais um ritual carnal, que todos nós humanos passamos.  No outro dia estava tudo “normal”.  No meu caso, foi uma bagunça de pensamentos, de questionamentos quase se transformando em gastrite. E quanto a nossa amizade, nunca tocávamos no assunto do tal beijo. O beijo ardente, aquele em que me tacava na parede de um parquinho quase abandonado. Seu perfume em mim, meu perfume em você.  De todos os beijos aquele foi o melhor: carícias, mordidas, a barba me arrepiando, sussurros no ouvido, você me empurrava contra a parede com seu corpo definido e nitidamente torneado, olhávamos o céu estrelado, enquanto algo muito forte acontecia por ali.  Entre você e eu, entre nós.

Mesmo que não trocássemos palavras sobre nossos atos, eles se repetiram por algumas vezes, mesmo quando ousamos tentar conversar para que eles não acontecessem, era mais forte que eu, era mais forte que você. Nunca foi feito algo que não lhe agradasse, mesmo aqueles beijos roubados após uma longa conversa na sua sorveteria favorita.  Sorveteria favorita com minhas e suas conversas mais adoradas. Quantos filósofos, sociólogos e escritores nós não mencionamos, por lá?!  Talvez a atendente deva culpar-se pela enorme quantidade de açúcar, favorecendo nossa loucura, pintada por sorrisos.

Se pudesse voltar aos dezesseis anos, não teria beijado aquele cara insignificante em sua apresentação musical.  Naquela época eu tinha em mente que nunca teria olhos para mim. E ainda não era completamente louca por você, mas se fosse possível voltar no tempo, não hesitaria. E passado alguns anos eu o vi encenar um beijo na boca de outra mulher e aquilo parecia verídico e verossimilhante, mas tive tempo de preparar-me psicologicamente.

“Eram só uma, duas, três cenas de ficção”.

 Entretanto, bem no fundo eu sempre soube, e você já sabia que a ficção não duraria por muito tempo, porque como já repeti e inexoravelmente repetirei, não foi o só um beijo, para mim era um beijo apaixonado. Para você era um beijo carnal. Era evidente, e com o tempo não havia mais proximidade, nem ao menos minhas fotos nas redes sociais você curtia ou comentava, o mundo começou perder a cor para mim. E para você era indiferente.

E quanto a nossa amizade, pergunto novamente?! Agora ela está  completamente mudada, nos vemos raramente, a última vez que nos vimos  foi para presenciar mais uma encenação, até hoje guardo o papelzinho confesso. Não nos beijamos vorazmente neste dia, apenas o beijei respeitosamente na testa e nos envolvemos em um leve abraço, depois ele me observou entrar pelo portão antes de sumir entre a brisa do vento.

E quem disse que eu não insistiria?! Tive  ao mesmo tempo a ideai mais burra e brilhante, uma ideia que não contaria a ninguém: enviar uma cesta de café da manhã com um textinho que falasse sobre nossa amizade, que dissesse o quanto à ausência só torna tudo mais difícil.

 Eu sabia que ele saia com outra garota o que deixava meu coração aos pedaços. Tentei esquecê-lo é claro. Ele sabia que eu não era idiota, que eu sabia sobre ela, que sei quem ela é, e que todas as sextas-feiras que ele mencionava não poder sair, quando éramos em minha cabeça nós. Hoje ele as divide com ela, sem ao menos uma de suas desculpas esfarrapadas.  

E sobre minha ideia burra e inteligente aqui um fragmento do texto:


Inútil é o ano luz que vivemos a cada instante.
Inútil é fazer-se constantemente distante.
Inútil é doar os sorrisos partilhados,
Aos Inúteis buracos desalmados.

Pudera eu pedir que não se vás?
Pudera eu pedir que a amizade volte ao estado de paz?
Que Apolo se posicione mais uma vez, em nossas conversas,
E Vênus junte duas almas: amigas e poetas?


Não queria perdê-lo, não podia sem ao menos tentar, mas a ideia foi burra, era óbvio que nada mudaria. Nós havíamos mudado. Foi um ato quase irracional.  Achei que seria como  um pouco antes do natal, em que entreguei um ursinho e chocolates, (chocólatra e cinéfilo, com certeza veria um filme comendo)  e ele ficou feliz.

 Desta vez, foi diferente ele poderia ter ficado bravo, ele podia ter sido o pior do mundo e ainda conseguiu ser o melhor, resgatando aquele ar de melhor amigo, do cara que me mostrava livros na webcam, que escolhia meus looks para sair ou simplesmente para nos falar mesmo.  

E como ele sempre soube que não foi apenas um beijo, minha ideia burra se tornou na mais inteligente pós conversa, pois sem ela não teríamos nos aberto um ao outro. A parte mais linda foi saber que daqui alguns anos, nós dois iremos rir juntos sobre nossas inconsequências de quando jovens, que ainda me emocionarei com as palavras dele em alguma sorveteria, ou a mesma sorveteria, e por sermos agora mutualmente sem ilusões ou mentiras: especiais um para o outro e isso ninguém tira ou muda.

 E fico extremamente feliz por ter me apaixonado pelo meu melhor amigo, porque ele me fez chorar plantando uma sementinha de sensatez, enquanto outros babacas me fariam chorar após um despejo de palavras desprezíveis.





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