agosto 28, 2015

O aflito da noite.




Sentada na praia já era fim de tarde em um quase anoitecer, ali estava ela, olhando para o horizonte que sumia diante de seus olhos, porém a vista daquele lindo lugar não ofuscava o seu vazio, seus tristes olhos e sua fome por sabedoria, no sentido de conhecer quem ela é. Naquele momento, muitíssimos pensamentos surgiam, e o tempo tornava-se intenso e imutável, fazendo-a ficar cara a cara com seus maiores medos, e um deles seria a insatisfação para com seu estado de ser.

De repente, Carla fechara os olhos, bloqueando a admirável beleza natural que não fora o suficiente para inquietar sua alma. Pois, até mesmo aquilo que não fora feito pelo homem, como: o barulho das ondas do mar, dos grilos, das cigarras, também a perturbava. E o que seriam todos esses conflitos mentais? Ah! Mentalmente ela desejava uma resposta, como se tudo o que fosse ou que fora não passasse de uma mera ilusão, e sua vida fosse apenas uma busca exacerbada para preencher-se com o mundo, que lamentavelmente parecia vazio, oco, alienado, denso como a noite em um campo de batalha para encontrar o seu verdadeiro eu.  

Carla abriu os olhos, e começou lentamente a passar a mão na areia, e escrevera com os dedos: Seria eu uma simples resposta do meio em que vivo? Enquanto buscava uma solução, ela fitava o céu com um olhar desnorteado, mas, antes que pudesse perceber o mar levou sua pergunta, assim como, fazem as pessoas quando não sabem responder.

Mas, Carla levantou-se e gritou, gritou muito alto.  – Por que tantos rótulos, tantos sentimentos vazios e com validade, pessoas sem laços de amizades e seres que não mais podem cantar sua liberdade, por quê?! Agora somos ferro reagindo com o ar? Meras oxidações em sociedade?! Não, dissera Carla, na verdade somos humanos com déficit de humanidade. Suspirou e pensou consigo: – Se somos um todo por que viver em parte?! Construindo dia pós dia, ilhas imaginárias de perpétuo egoísmo que esvaí e destrói os homens, causando feridas somente vistas por aqueles que não desejam mais sofrer.

             Reflexões e mais reflexões ficara tarde e a brisa marítima estava cada vez mais gelada fazendo-a arrepiar, embora, isso tenha feito-a recordar de um sonho que parecia extremamente real. Nesse sonho, Carla pudera “viver” um dos momentos de sua passagem por um dos hemisférios, o qual era nomeado como ideal.  Aonde ela almejava o sol em uma fria escuridão e não por sua insuficiência, ele mantinha-se presente, o magnífico Deus Hélios, com um sorriso radiante e encantador, mas, Carla perto de tanta luz tornara-se opaca, o que aumentava o distanciamento entre os dois mesmo ambos se conhecendo. – Hélios tu partirás? Dissera Carla o cerrando. – Sim, mas Aurora logo lhe trará noticias. Dissera Hélios com um firme semblante.  E no mesmo instante imergiu com sua carruagem em uma nuvem de fumaça celestial.

            Ela sentia-se como a lua que tanto gostava de observar: um mero satélite dependente de outro ser abiótico, para manter-se iluminado. E era o que a mais incomodava. E mesmo que eles desconhecessem a realidade, o que seria mesmo tudo isso?  Ela o adorava e não se importava caso não ficassem juntos, essa possessão que indiretamente criara em seu subconsciente a fez totalmente ligada a ele independente de onde estivesse.  A partida de Hélios a deixou um pouco mais forte e a fez pensar o quanto ela o admirava.

Carla, muitas vezes o via cantar, esculpir, guerrear e compor canções com palavras que já mais ouvira; eclético e cheio de habilidades assim ele era. Hélios, também era Deus do tempo e posto isso, gostava bastante de fazer o seu cronograma de acordo com as atividades que desejava completar; inquestionavelmente focado. – Carla. Gritou Aurora. – Hélios pediu para dizer-lhe que está bem, apenas que seus raios foram um pouco difundidos, mas, nada que ele não possa resolver. Dissera Aurora com um lindo sorriso. – Fico muito agradecida, Aurora por dizer-me como ele está. Dissera ela sorridente – Preciso partir Carla por mais que Hélios controle e tenha domínio sobre os minutos e segundos é necessário que eu me vá. E então Aurora partira. E assim, Hélios pudera retornar.

Carla estava completamente apaixonada por ele e tomou coragem para dizer-lhe, mas, ao tentar aproximar-se percebera que seu calendário assim como seu relógio não era o suficiente e cada vez mais, sentia-se obscura como se habitasse o mundo real; o tal mundo do aflito. Em contra ponto, estava feliz por encontrar alguém que  ainda tentava  se preencher.

Lembrar, desse sonho a fez cometer uma digressão temporária, e ao mesmo tempo refletir o quanto precisava de alguém, que fosse o sol para aquecer todos os pensamentos incessantes e frios que tinha em sua mente e em seu coração. À noite, que na qual, ela estava passando eram frutos de uma realidade desconhecida assim como no seu sentido literal.

Ela um pouco mais conformada dissera: – Somos seres Indubitavelmente inconstantes diante de muitíssimos paradoxos, agora nos resta escolher como queremos viver, seja como robôs e seus comandos, ou entre a cansável busca para saciar nossas duvidas.

Ela acreditava que mesmo, que nós não fossemos seres livres devido à interligação dos nossos pensamentos com a coerção social, Carla sabia que a única esperança seria buscar sua essência e uma forma de viver que fosse satisfatória com o que estava sentindo em cada momento coexistente.



Ela extremamente cansada após uma noite que parecia interminável, sabia que assim como em seu sonho a aurora chegaria, portanto, antes que o sol se intensificasse ela se foi caminhando pela praia deixando suas pegadas, que logo seriam apagadas, como a vida que em algum momento teria um fim.

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