Sentada
na praia já era fim de tarde em um quase anoitecer, ali estava ela, olhando
para o horizonte que sumia diante de seus olhos, porém a vista daquele lindo
lugar não ofuscava o seu vazio, seus tristes olhos e sua fome por sabedoria, no
sentido de conhecer quem ela é. Naquele momento, muitíssimos pensamentos
surgiam, e o tempo tornava-se intenso e imutável, fazendo-a ficar cara a cara
com seus maiores medos, e um deles seria a insatisfação para com seu estado de
ser.
De
repente, Carla fechara os olhos, bloqueando a admirável beleza natural que não
fora o suficiente para inquietar sua alma. Pois, até mesmo aquilo que não fora
feito pelo homem, como: o barulho das ondas do mar, dos grilos, das cigarras,
também a perturbava. E o que seriam todos esses conflitos mentais? Ah!
Mentalmente ela desejava uma resposta, como se tudo o que fosse ou que fora não
passasse de uma mera ilusão, e sua vida fosse apenas uma busca exacerbada para
preencher-se com o mundo, que lamentavelmente parecia vazio, oco, alienado,
denso como a noite em um campo de batalha para encontrar o seu verdadeiro eu.
Carla
abriu os olhos, e começou lentamente a passar a mão na areia, e escrevera com
os dedos: Seria eu uma simples resposta do meio em que vivo? Enquanto buscava
uma solução, ela fitava o céu com um olhar desnorteado, mas, antes que pudesse
perceber o mar levou sua pergunta, assim como, fazem as pessoas quando não
sabem responder.
Mas,
Carla levantou-se e gritou, gritou muito alto.
– Por que tantos rótulos, tantos sentimentos vazios e com validade,
pessoas sem laços de amizades e seres que não mais podem cantar sua liberdade,
por quê?! Agora somos ferro reagindo com o ar? Meras oxidações em sociedade?!
Não, dissera Carla, na verdade somos humanos com déficit de humanidade.
Suspirou e pensou consigo: – Se somos um todo por que viver em parte?!
Construindo dia pós dia, ilhas imaginárias de perpétuo egoísmo que esvaí e
destrói os homens, causando feridas somente vistas por aqueles que não desejam
mais sofrer.
Reflexões e mais reflexões ficara tarde e a
brisa marítima estava cada vez mais gelada fazendo-a arrepiar, embora, isso
tenha feito-a recordar de um sonho que parecia extremamente real. Nesse sonho,
Carla pudera “viver” um dos momentos de sua passagem por um dos hemisférios, o qual
era nomeado como ideal. Aonde ela almejava
o sol em uma fria escuridão e não por sua insuficiência, ele mantinha-se presente,
o magnífico Deus Hélios, com um sorriso radiante e encantador, mas, Carla perto
de tanta luz tornara-se opaca, o que aumentava o distanciamento entre os dois
mesmo ambos se conhecendo. – Hélios tu partirás? Dissera Carla o cerrando. –
Sim, mas Aurora logo lhe trará noticias. Dissera Hélios com um firme semblante.
E no mesmo instante imergiu com sua
carruagem em uma nuvem de fumaça celestial.
Ela
sentia-se como a lua que tanto gostava de observar: um mero satélite dependente
de outro ser abiótico, para manter-se iluminado. E era o que a mais incomodava. E
mesmo que eles desconhecessem a realidade, o que seria mesmo tudo isso? Ela o adorava e não se importava caso não
ficassem juntos, essa possessão que indiretamente criara em seu subconsciente a
fez totalmente ligada a ele independente de onde estivesse. A partida de Hélios a deixou um pouco mais
forte e a fez pensar o quanto ela o admirava.
Carla,
muitas vezes o via cantar, esculpir, guerrear e compor canções com palavras que
já mais ouvira; eclético e cheio de habilidades assim ele era. Hélios, também
era Deus do tempo e posto isso, gostava bastante de fazer o seu cronograma de
acordo com as atividades que desejava completar; inquestionavelmente focado. –
Carla. Gritou Aurora. – Hélios pediu para dizer-lhe que está bem, apenas que
seus raios foram um pouco difundidos, mas, nada que ele não possa resolver.
Dissera Aurora com um lindo sorriso. – Fico muito agradecida, Aurora por
dizer-me como ele está. Dissera ela sorridente – Preciso partir Carla por mais
que Hélios controle e tenha domínio sobre os minutos e segundos é necessário
que eu me vá. E então Aurora partira. E assim, Hélios pudera retornar.
Carla
estava completamente apaixonada por ele e tomou coragem para dizer-lhe, mas, ao
tentar aproximar-se percebera que seu calendário assim como seu relógio não era
o suficiente e cada vez mais, sentia-se obscura como se habitasse o mundo real;
o tal mundo do aflito. Em contra ponto, estava feliz por encontrar alguém que ainda tentava se preencher.
Lembrar,
desse sonho a fez cometer uma digressão temporária, e ao mesmo tempo refletir o
quanto precisava de alguém, que fosse o sol para aquecer todos os pensamentos incessantes
e frios que tinha em sua mente e em seu coração. À noite, que na qual, ela
estava passando eram frutos de uma realidade desconhecida assim como no seu
sentido literal.
Ela
um pouco mais conformada dissera: – Somos seres Indubitavelmente inconstantes
diante de muitíssimos paradoxos, agora nos resta escolher como queremos viver,
seja como robôs e seus comandos, ou entre a cansável busca para saciar nossas
duvidas.
Ela
acreditava que mesmo, que nós não fossemos seres livres devido à interligação dos nossos pensamentos com a coerção social, Carla sabia que a única esperança
seria buscar sua essência e uma forma de viver que fosse satisfatória com o que
estava sentindo em cada momento coexistente.
Ela
extremamente cansada após uma noite que parecia interminável, sabia que assim
como em seu sonho a aurora chegaria, portanto, antes que o sol se
intensificasse ela se foi caminhando pela praia deixando suas pegadas, que logo
seriam apagadas, como a vida que em algum momento teria um fim.
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