janeiro 20, 2016

Sentimento escancarado.


    E eu sempre fui péssima de memória, não lembro sequer o que comi ontem. Mas lembro da cor do seu moletom e do estilo do sapato "de velho" que você usou quando nos beijamos pela primeira vez. Lembro do seu jeito todo sem jeito de chegar em mim e se me perguntar, posso contar detalhes dos milésimos de segundos que antecederam aquele beijo.

      Nunca lembro onde coloquei meu cartão, sempre esqueço a senha dele e sequer sei dizer meu cpf, às vezes esqueço meu próprio telefone, mas mesmo depois de tanto tempo sem te ligar e sem falar contigo, ainda sei de cor o seu número. 

     Sou mal humorada de nascença. Noventa por cento de mim é patada e os outros dez por cento cara fechada. Mas as estatísticas mudavam quando eu estava com você.

     Sou insegura. Ao extremo. Falar frente a um grande público, sempre é um martírio. Dançar em público? Jamais. Mas quando estava com você, mesmo sendo descompassada, eu dançava descalça, falava em voz alta e discursava. Se disser que te ver com aquele olhar orgulhoso quando apresentei meu trabalho de biologia no colegial me fez tirar um dez, você acreditaria?

     É que eu morro de vergonha de ficar descalça em público, da minha barriga gordinha, do meu jeito desengonçado no salto ou até mesmo, morro de vergonha quando tô rindo muito e acabo parecendo uma hiena com asma (pensa numa risada esquisita). Se disser que quando eu tava com você, eu perdia tudo isso, todas essas neuras bobas. Você acreditaria? 

     Só não diga que não significou nada pra você. Pois pra mim valeu tudo, valeu o mundo. Pois foi com você e só com você que pela primeira vez na vida me senti assim.

     Eu não tinha medo, eu tinha confiança, eu tinha um ótimo humor, minha memória era boa quando se tratava de você, eu tinha prazer em acordar as seis da manhã, pois sabia que iria te encontrar. Eu sentia que podia voar, eu tinha o mundo em minhas mãos. Eu tinha você.

     Eu tinha vontade de gritar pro mundo que EU te encontrei, que era comigo que você estava. Você não era a minha metade, era meu inteiro. Era meu por inteiro. A vontade era de pegar um megafone e gritar pra quem quisesse ouvir, de pixar um muro com as nossos nomes dentro de um coração bem clichê, de fazer aqueles vídeos bregas com foto e aquele texto e colocar no facebook. De subir na mesa do bar e gritar a toda força: EU TE ENCONTREI. 

     Não foi ela, nem nenhum outro alguém. Fui eu. EU e ninguém mais. Cheguei a pensar que você tinha algum super-poder e por estar com você, poderia livremente usufruir deles. 

     Cheguei até a pensar que iria durar... 

     Eu era a garota maluca com seus defeitos e qualidades escancarados. Dava a cara a tapa e punha o coração em risco de queda. 

     E quebrou. Estilhaçou. Foi como se tivesse sido jogado de um arranha céus, na verdade. Parece que a cada passo que dou, sem importar pra onde vou, ainda sinto os cacos no chão. 

     Ainda dói ouvir seu nome. Dói saber que já não me gosta tanto assim. Dói ver o quanto você mudou. E dói mais ainda ver que está bem e (pior) que sempre esteve melhor sem mim. 

      Dói te gostar tanto e perceber que no fim, não signifiquei pra você tanto assim.


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